Pormenor de Série Love (Cacto), 2016, acrílico sobre tela, 94 x 90 cm
Como o singular momento de o encontro de duas pessoas, tal como uma ponte que interliga dois pontos, lugar de passagem e união, nesta exposição os trabalhos apresentam diferentes configurações em diversas alusões simbólicas, o encontro e ligação, a fragilidade e temporalidade, a transformação da vida e das coisas.
As marcas cravadas num tronco de árvore ou planta, elementos vivos e em permanente mutação até ao seu desaparecimento, transpõem a passagem do tempo e das coisas. Como vestígio e memória, registos de tempo, na tentativa da retenção de um momento, na busca da permanência de um sentimento.
Como uma possível visão poética de encontro e conexão, duas laranjas, músicas ou montanhas lado a lado, apresentam-se como pares. Uma paisagem transposta por um casal, como fuga e evasão, ou um portão fechado, passagem para algo desconhecido. A pintura permeia-se de objetos, marcas e lugares, num encontro simbólico com a vida, figurando-se de novos sentidos.
As instalações Vanitas são compostas por várias telas de diversas dimensões compostas sobre uma prateleira ou um plínto. Diferentes objectos do quotidiano figuram numa composição fragmentada de telas como uma natureza-morta.
Como um Vanitas contemporâneo os objectos representados ganham um diferente poder simbólico. Numa intrepretação, citação e questionamento, o género clássico da Pintura toma uma nova aparência. Tanto na sua transposição da parede para uma prateleira, como na escolha dos elementos representados. Ao ser deslocada da sua posição tradicional de contemplação, na parede, é evidênciada a própria materialidade da pintura, a tela é apresentada como outro objecto banal e vulgar do dia-a-dia.
A Pintura, a Arte, torna-se matéria de reflexão crítica. Num jogo de ironia e questionamento, a pintura coloca-se a ela própria objecto de representação. Uma tela virada de costas, ou o livro “After the End of Art: Contemporary Art and the Pale of History” de Arthur C. Danto constroem assim diferentes leituras simbólicas e conceptuais. Tal como uma obra que transcede a vivência do próprio artista, como as telas de um pintor ou os textos de um escritor,como vestígio e marca sua passagem, e da sua vida, que se perpetua ao longo dos tempos. É também manifestação da constante transformação das coisas, onde tudo deixa de ter valor face à inevitabilidade da morte.
Uma maçã trincada, uma laranja apodrecida, um saco de supermercado, comprimidos antidepressivos, uma garrafa de vinho, flores numa jarra, etc., podem assim simbolizar tanto as acções humanas como das das coisas. Vaidade, futilidade, transformação, decadência, precariedade, morte... Os objectos representados figuram a ideia da fragilidade da vida.
O trabalho Atlas explora diversas dimensões da relação entre Imagem e Pintura. Deslocações e transferências que ocorrem quer pela utilização da imagem enquanto modelo e referente para a pintura, quer pelo seu progressivo desvanecimento ou total anulação.
Ao ser tornada pintura, representação da representação, a imagem fotográfica apresenta-se como vestígio de si própria. Transposta para a tela ou para o papel, a imagem é reinventada: cor, textura, enquadramento, dimensão, selecção, corte, fragmentação... a imagem assume uma nova materialização. Dando lugar a uma reinterpretação e procura, desconstruindo e descontextualizando a referência para de novo a reconstruir segundo uma nova vontade, uma nova reconfiguração...
Através da representação de suportes vazios desprovidos de imagem, são assim convocadas todas as potenciais imagens que servem como referência à pintura. Dos diferentes meios e domínios do quotidiano: fotografias de jornais, revistas, livros, postais, rótulos de embalagens, publicidade, cinema, televisão, vídeo, fotografias pessoais... A aparente ausência torna-se presença e possibilidade imaginada.
O Insustentável Peso da Imagem
O advento da fotografia desencadeou uma das maiores revoluções na criação de imagens, dando origem à passagem do processo manual para o mecânico. As transformações da sua produção e reprodução, bem como as possibilidades no domínio digital, potenciaram uma aceleração gradual e uma massificação em níveis nunca antes alcançados. Devido à sua aparente proximidade com a realidade, a imagem fotográfica veio estabelecer uma ligação sedutora entre referente e observador. Esta relação, sustentadora de um ciclo vicioso, ininterrupto e exponencial na dependência do consumo e produção visual, promove e determina as relações das sociedades contemporâneas, conduzindo-as para uma cultura da imagem. Com o tempo, as fronteiras e limites entre verdade e ficção confundem-se. E, com a intensificação da potência da imagem e dos excessos da mediatização, surge também um efeito da banalização, precipitando a experiência humana para uma espécie de dormência do sentir e do pensar.
Perante o insustentável peso da imagem, as potencialidades pictóricas apresentam-se como evasão, escape de libertação, purificação e reconfiguração.
O encontro com a pintura possui um efeito regenerador: devolve sentido às imagens reanimando-as, conferindo-lhes um novo poder, um novo encantamento.
Vivemos hoje numa era onde a produção e o consumo desenfreado das sociedades humanas geram uma acumulação e desperdício numa escala nunca antes alcançada. Os limites foram transpostos, a saturação conduziu a um excesso insustentável. Como uma natureza-morta, o lixo acumulado amontoa-se, os objectos tornados lixo, o excedente, perecível e efémero. Questionando a excedência da sociedade, os restos da vivência humana ganham uma nova aparência na transposição do quotidiano para a tela.
A constante e incessante proliferação da imagem e a overdose de informação a que diariamente estamos sujeitos transformou a nossa maneira de ver e de sentir. A aceleração descontrolada que vai regendo e tecendo a comunição e as relações das diversas estruturas das sociedades contemporâneas, conduziu a uma perda das noções de espaço e de tempo.
A profusão de imagens chocantes, repetidas até à exaustão, tornou-nos insensíveis, indiferentes, imergiu-nos numa espécie de dormência do sentir. A imagem de um acidente, de uma fatalidade torna-se algo banal e vulgar, à espera de ser retalhada por um vago olhar mórbido e curioso.
As novas tecnologias trouxeram novas possibilidades, os limites já não são perceptíveis. O corpo confude-se com a máquina pondo em questão os nossos limites. Qual a nossa velocidade de destruição?
No momento actual as constantes transformações económicas e sociais afectam as sociedades a nível global.Os conceitos de velocidade, excesso e limite afiguram-se como caracterizadores e configuradores da própria experiência humana contemporânea.
Manifesta-se uma crescente sensação da necessidade de reconfiguração do mundo e das coisas.
A produção e o consumo desenfreado das sociedades humanas geram uma acumulação e desperdício numa escala nunca antes alcançada. A massificação e a banalização dos objectos, transformou a forma como nos relacionamos com o mundo. A fácil e imediata substituição de algo perdido, acentua a presente vivência materialista, onde tudo parece ser substituível.
Todos os dias inúmeros objectos são perdidos em Lisboa, quer nos transportes públicos, quer nos mais diversos espaços da cidade. Os objectos perdidos, ou algo esquecido num autocarro da Carris, são entregues na Secção de Achados da P.S.P., inventariados e armazenados, esperando a sua recuperação pelo proprietário.
Os mais diversos objectos são acumulados em prateleiras, gavetas e caixas… Desde um banal guarda-chuva a um aparelho de medição da glicemia, carteiras, livros, chaves, malas, lenços, medicamentos, telemóveis, máquinas fotográficas, sapatos, brinquedos, casacos, óculos, próteses dentárias…
Como repositório, um museu da vida quotidiana, cada objecto deixa adivinhar uma história. A importância sentimental e o valor material para a pessoa que o perdeu, as vivências subentendidas que cada coisa encerra, as possíveis transformações e consequências que a perda causou… Como arqueologia da vida contemporânea, a leitura dos objectos pode definir a própria estrutura e cultura da sociedade, como retrato da própria cidade caracterizado e mediado pelos objectos.
Do particular ao global, onde observamos os outros e a nós mesmos, pela familiaridade e identificação dos objectos que nos rodeiam no dia-a-dia e a sua importância na nossa vida.
A representação destes objectos através da pintura configura-se como se de um arquivo se tratasse. Como um atlas de vivências da vida quotidiana contemporânea. Onde novos valores simbólicos tomam lugar face às diversas leituras que se tornam possíveis.
A representação da presença de algo ausente, de algo que foi perdido e armazenado, esperando o retorno ao seu proprietário, num limbo onde todos os possíveis valores, intrínsecos, sentimentais ou outros, foram descontextualizados, para dar lugar a uma nova reconfiguração.
Num mundo cada vez mais acelerado, onde nos perdemos inconscientemente nas rotinas do quotidiano rodeados de objectos e de consumo, a vida e as coisas assumem diferentes valores e significados.
Nasceu em 1978, Lisboa.
Vive e trabalha em Lisboa.
Mestrado de Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL).
Licenciatura em Artes Plásticas, opção Pintura na Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha (ESAD).
Meet me at the bridge, Caroline Pàges Gallery, Lisboa.
Vanitas, Next Room, Lisboa.
Velocidade, Galeria NovaOgiva, Óbidos.
Lost and Found, Galeria do Museu da Carris, Lisboa.
Exposição, Caroline Pagès Gallery, Lisboa.
Trash Round the Corner, Round the Corner, Lisboa.
Limite, Caroline Pagès Gallery, Lisboa.
O Insustentável Peso da Imagem, Sala do Veado – Museu Nacional de História Natural, Lisboa.
Periplos – Arte Portugués de Hoy, CAC Málaga, Málaga, Espanha
Masquerade, Caroline Pagès Gallery, Lisboa.
Atlas Secreto, Galeria Má arte, Aveiro.
Diálogos com as Obras do Museu Bienal de Cerveira, Sociedade Nacional de Belas-Artes, Lisboa.
Atlas Secreto, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, Coimbra.
Atlas Secreto, Casa da Avenida, Setúbal, Portugal.
Atlas Secreto, Igreja de São Vicente, Évora, Portugal.
Atlas Secreto, Espaço Mira, Porto, Portugal.
Atlas Secreto, Casa Bernardo, Caldas da Rainha, Portugal.
Jeune Creation Europeene, Amarante, Portugal.
Jeune Creation Europeene, Salzburgo, Aústria.
Jeune Creation Europeene, Pécs, Hungria.
International Call for Young Artists – XIV Edition, Valencia, Espanha.
Blind Date, Lisboa.
Jeune Creation Europeene, Bratislava, Eslováquia.
Jeune Creation Europeene, Hamburgo, Alemanha.
Jeune Creation Europeene, Klaipeda, Lituania.
Jeune Creation Europeene, Montrouge, França.
XVI Bienal de Cerveira, Vila Nova de Cerveira.
90-10 Exposição 20 Anos de Artes Plásticas ESAD_CRIPL SOMAFRE, Edifício XXI – Polo Tecnológico de Lisboa-Carnide, Lisboa.
Iniciativa X, Espaço Arte Contempo, Lisboa.
Cópia, Sala Bebé, Lisboa.
Vestígio II, Pavilhão 28, Lisboa.
Small is Beautiful, Caroline Pagès Gallery, Lisboa.
1990/2010 - Sala do Veado, Cabinet d'Amateur, Museu Nacional de História Natural - Sala do Veado, Lisboa.
Espacio Atlantico, Feira de Arte de Vigo, rep. p. Caroline Pagès Gallery, Vigo, Espanha.
Iniciativa X, Espaço Arte Contempo, Lisboa.
Still Moving Still, Espaço ArteContempo, Lisboa.
Mostra da XV Bienal de Cerveira, LX Factory, Lisboa.
XV Bienal de Cerveira, Vila Nova de Cerveira, Portugal (cat.).
The Drawing Salon, The Mews Project Space, Londres.
Accrochage 01/09, Galeria Luís Serpa Projectos, Lisboa.
Junho das Artes, Galeria do Pelourinho, Óbidos, Portugal (cat.).
Pavilhão de Portugal, Hangar-7, Salzburg, Austria(cat.).
Vestígio, Pavilhão 28, Lisboa (cat.).
Iniciativa X, Espaço Arte Contempo, Lisboa.
Aquilo sou Eu: Auto-retratos de artistas contemporâneos – Obras da Colecção (Safira & Luís) Serpa, Fundação Carmona e Costa, Lisboa(cat.).
3º Prémio de Pintura Ariane de Rothschild, Antiga Gráfica Mirandela, Lisboa (cat.).
Rasura, Espaço Avenida, Lisboa.
Opções & Futuros: Obras da Colecção da Fundação PLMJ #2_2006, Espaço Arte Contempo, Lisboa.
Cabinet d´Amateur II, Galeria Luís Serpa Projectos, Lisboa.
Accrochage 02/06_Nova Geração, Galeria Luís Serpa Projectos, Lisboa.
Trabalhos em Papel, exposição organizada em colaboração com Galeria Luís Serpa Projectos, Habitação Particular, Bairro Alto, Lisboa.
Controlo Remoto_Mutações entre o homem e a cidade, Galeria Luís Serpa Projectos, Lisboa.
Exposição de Finalistas, Centro Cultural Emmérico Nunes, Sines.
Video Exchange/Permuta de Video, New York University, Steinhardt School of Education, Department of Art and Art Professions, Nova Iorque.
Exposição de Finalistas, Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha (ESAD), Caldas da Rainha.
Caldas Late Night, Habitações Particulares, Caldas da Rainha.
Fundação PLMJ
Fundação Ilídio Pinho
Museu da Bienal de Cerveira
Museu da Carris
Isabel e Julião Sarmento
CAC Málaga
Luciano Benetton Colection
and other private collections in Portugal, France and Austria
CEPEDA, Rui Gonçalves – "A estranha arte dos portugueses" in IN-Noticias Sabado (JN & DN supplement), p. 80, 21 de Fevereiro.
OLIVEIRA, Luísa Soares de, - “Monumentos, recordações e outras ruínas” in Público-Ípsilon, p.33, 16 de Janeiro.
CEPEDA, Rui Gonçalves - "Leilão de Arte Contemporânea na Phillips de Pury & Company" in Diário de Notícias/Jornal de Notícias - Notícias Sábado nº 129, p. 54, junho.
CUNHA, Nuno - "Trato do Efémero" in Diário de Notícias/Jornal de Notícias - Notícias Sábado nº123, p. 58, 17 de Maio.
FAZENDA, Maria do Mar - "Danos colaterais da contemporaneidade" in L+Arte nº49, p. 86, Junho.
SANTOS, Rita - "Marta Moura" in Artnotes nº 21, p. 75, Junho-Julho.
FAZENDA, Maria do Mar - in cat. "AR: 3º Prémio de Pintura Ariane de Rothschild", Banque Privée Edmond Rothschild Europe.
MARTINS, Celso - "Rasura" in Expresso - Actual, p. 34, 2 de Junho.
AMADO, Miguel - in cat. "Opções & Futuros: Obras da Colecção da Fundação PLMJ #2_2006", Fundação PLMJ.
MARTINS, Celso - "Esplendor da catástrofe" in Expresso - Actual, p. 59, 19 de Novembro.
Colecção Fundação Ilído Pinho
Anamnese
Fundação PLMJ
Hangar-7
Vestigio
Ariane de Rothschild Prize